sexta-feira, 17 de abril de 2020

Ensaio sobre a ansiedade

Escrever para mim é como alguma fórmula maluca que faz circular melhor o sangue e colocar os pensamentos em ordem. Como que se antes de escrever eu tivesse alguma disfunção grave. Não é tão grave a situação de ausência dos versos até que percebo que a cada dose da palavra se alívia a dor de ser eu mesma. Não preciso de muito, mas quando me acostumo, não me imagino sem as letras e a frase que se completa, se transforma em uma exposição de coisas que estavam na minha cabeça e agora passaram a existir para outros.
Vivendo em tempos em que a necessidade de interatividade e compartilhamento de ideias se dá de maneira tão acelerada que qualquer coisa que deveria ser privada ou simples e individual de compreensão e digestão própria é passada para frente. É nítido que por isso a disseminação é de coisas irrelevantes. E talvez o irrelevante é idiota e o idiota virou o novo engraçado. E ai, em grandes quantidades, as informações irrelevantes passam a ser as mais importantes para a maioria das pessoas. Acontece que ingerimos tão rápido que o lento é rejeitado pela falta de paciência, e então, nos tornamos intolerantes a profundidade das coisas que acontecem devagar. Será que eu também amo a rapidez? O que me preocupa é essa sensação de que estou sozinha quando estou sendo profunda e detalhista, mergulhando em todos ao meu redor. Me sinto como que estivesse enloquecendo e as pessoas escorregando entre os meus dedos enquanto me finjo de rápida. Pode ser que nesse momento venha a tona a flexibilização e relativização das coisas. Quero dizer, o que é rápido para mim poder não ser para outro e vice versa. Mas na real, não é disso que estou falando. Me refiro a essa necessidade de controlar os milésimos de segundos que vão sobrepor essa página em branco. O que eu escolho para preencher o vazio. É raso ou profundo? O que acho pior da ansiedade é que ela não faz apenas nos preocuparmos com o futuro, o que de fato pode ser pior que isso é que ela nos tira do presente e traz sem mais nem menos a ideia de que estamos fazendo algo que não deveríamos, ou de estarmos no lugar errado, às vezes, com as pessoas erradas. A ansiedade é a fobia de um espaço e tempo onde não podemos estar vários lugares ao mesmo tempo. Uma fobia de nós mesmos querendo ser Deus que criou o mundo em 7 dias.

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